terça-feira, junho 05, 2007

Premonições

Entrar no cinema sem expectativa pode ser uma boa. Enquanto os últimos capítulos de Homem Aranha e Piratas do Caribe tumultuam metade das salas, Premonições estréia como aquele filme que faz pouco barulho na sala ao lado, e talvez por isso agrade. O título é ruim. Por conta dele, o filme corre o risco de ser encarado pelo público apenas como “outro com nome parecido”, já que o mercado está saturado deles: Premonição, A Premonição, O Dom da Premonição. Mas os três dias de abertura do longa em março nos EUA deixaram a Sony (uma das distribuidoras) contente. Ele ocupou o terceiro lugar nas bilheterias e presenteou Sandra Bullock com o fim de semana de estréia mais rentável de sua carreira.

Aqui, ele deu o azar de entrar em cartaz no furor de Peter Parker e Jack Sparrow. No filme, Bullock é Linda Hanson, dona-de-casa que fica viúva quando o marido (Julian McMahon) sofre um acidente. Na manhã seguinte ele está vivo e episódios incongruentes passam a se entremear, sem sabermos se são reais ou alucinações. Mesmo com perniciosas falhas de continuidade e alguns pequenos furos no roteiro, não nos perdemos na história. Mas, como o título, a idéia não é nada inovadora e traz os clichês costumeiros: a fé como resposta; a família como o bem maior; a sanidade da personagem que é questionada.

Situar o espectador no ponto de vista de Linda é boa idéia – embora a overdose de Sandra Bullock na tela seja tamanha que os coadjuvantes parecem existir apenas pra que ela não fale sozinha. Enxergamos tudo de acordo com sua percepção das coisas. Afinal, nada indica que suas alucinações não correspondem à realidade. A direção de arte é correta e junto com a fotografia simula um ambiente palpável como o do nosso mundo real. Mas a sensibilidade do diretor Mennan Yapo é o que faz a diferença. Optando, por exemplo, pelos planos fechados na primeira metade do filme, ele soube o que mostrar nas imagens enquanto construía a tensão. É graças à sua astúcia que entramos no jogo de uma história parecida com tantas outras e somos levados.

Premonições é o tipo de cria da indústria que não está preocupado em te oferecer nada além do puro entretenimento. Uma idéia americana com lugares comuns, ancorada por uma estrela que já não brilha tanto em Hollywood. Mais um filme comercial de porte médio entre um ou outro blockbuster megalomaníaco. Tais estereótipos são inegáveis, mas dentro deles esse suspense se sai melhor do que um genérico com “premonições”. É um filme bem feito.