terça-feira, março 20, 2007

Scoop - O Grande Furo


O melhor comentário que ouvi sobre Scoop – O Grande Furo (Scoop, EUA/Inglaterra, 2006) foi “ele não acrescenta em nada a carreira de Woody Allen”. O diretor nova-iorquino tem um hábito distinto da maioria de seus colegas do cinema contemporâneo: ele é um cineasta que bate cartão. Ano a ano, sem falhar, Allen lança pelo menos um longa de sua autoria no mercado.

Quantidade não garante qualidade. O velho chavão se encaixa bem ao Allen dos últimos anos, capaz de variar do agradável em Melinda e Melinda (2005) ao admirável em Match Point (2005) e ao mero aceitável em Scoop. A roupagem dos três filmes não é muito diferente do que aprendemos a esperar do cineasta com o passar do tempo. Suas neuroses particulares, o quê de egocentrismo, as tiradas auto-depreciativas, o humor cínico e cortante das falas marcaram toda a filmografia do diretor e são também o tempero de Scoop. Goste-se ou não do que ele faz, é preciso reconhecer sua astúcia. Reinventar um mesmo esquema com um mínimo de competência tantas e tantas vezes é capacidade de poucos, e talvez seja esse o seu maior talento.

Allen continua fora de seu cenário favorito, Nova York, embora o texto ainda faça menção à sua cidade natal e, como não poderia deixar de ser, à origem judia. Já à vontade depois de Match Point, em Scoop ele permanece em Londres na boa companhia de Scarlett Johansson e dá as caras em mais uma comédia. Se não faltam energia e personalidade ao filme de 2005, o novo longa se contenta com pouco. Sequer se aproxima da potência dramática de Match Point, o que não chega a ser um problema se assumirmos que o filme não está interessado nisso. Scoop é, por natureza, bem menos pretensioso.

Sondra Pransky (Johansson) é uma estudante de jornalismo americana de visita a Londres. Quando participa de um truque de desmaterialização durante o show do mágico Sidney Waterman (Allen), surge em sua frente o espírito de um importante repórter investigativo morto recentemente (Ian McShane), que lhe dá um grande furo jornalístico: o aristocrata Peter Lyman (Hugh Jackman) seria um perigoso serial killer. Para investigar pistas que confirmem a história, Sondra se envolve com Peter e acaba se apaixonando por ele.

A trama é banal em todo o seu desenrolar. Fica a sensação de já termos assistido aquilo antes, em algum lugar. Isso porque, apesar de saturado do humor, dos vícios e das neuroses de Allen – e, que fique claro, se tratando dele esses não são termos pejorativos – já vimos, sim, essa mesma história em inúmeros outros filmes. A farsa pontilhada por nuances teatrais é simples, em técnica e enredo, mas de um bom gosto que se confirma, por exemplo, na trilha sonora refinada com músicas de Strauss. Londres, charmosa por si só, é um ótimo cenário para o texto ágil e afiado que Allen compartilha com sua musa e compatriota Johansson, inspiradíssima, sem jamais perder o controle do timing cômico. E se Hugh Jackman não oferece muito em seu desempenho, a dupla de americanos vale o ingresso.

Saindo da sala de cinema, a conclusão é que o filme não fede nem cheira. Woody Allen ainda é saboroso, embora às vezes seja sem sal. O tempero de Allen é bom, mas Scoop ficou sem gosto.

3 Comentários:

Às 6:50 PM , Blogger Dennis. disse...

concordo plenamente (!), com apenas um adendo: putz, ele conseguiu deixar a scarlett feia! isso não se faz! o q é aquele cabelo? aqueles óculos? musa é musa, for cryin' out loud!

 
Às 1:07 AM , Blogger Alex Gonçalves disse...

Isabella, toda a sua resenha tem um grande fundo de verdade, mas é deste Woody Allen que eu adoro: ágil ao criar roteiros com diálogos engraçados todo o instante e sem grandes mudanças. Preciso ver urgentemente a alguns de seus filmes clássicos para ter uma breve noção se Allen sempre realizou filmes de grande semelhança.

Obs.: o endereço do Cine Resenhas mudou para www.cine-resenhas.blogspot.com

 
Às 1:01 AM , Anonymous Anônimo disse...

Vai passar um paninho, não? Tá tudo empoeirado por aqui...

 

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