terça-feira, dezembro 20, 2005

As Crônicas de Nárnia: o Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa

Um mundo fantástico povoado por seres incríveis, palco de uma aventura épica. Seria essa uma nova versão da famosa trilogia que arrasou as bilheterias do mundo todo? Não, não se trata de O Senhor dos Anéis, mas de uma obra com uma premissa bem semelhante. As Crônicas de Nárnia: o Leão, a Feiticeira e o Gurada-Roupa (The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe, Estados Unidos, 2005) é a mais recente adaptação dos contos homônimos de C. S. Lewis – a primeira para o cinema, no entanto. As semelhanças entre as duas histórias não são, todavia, mera coincidência e as comparações são inevitáveis. Lewis era discípulo de J. R. R. Tolkien, autor da saga do anel. Esse, católico devoto, convenceu o amigo e colega a aceitar o cristianismo. E embora nunca tenha se convertido a nenhuma de suas denominações, Lewis tornou-se um cristão militante. Mais um pensador sobre a fé do que um seguidor de dogmas, na verdade. Suas Crônicas de Nárnia, execradas por Tolkien, são uma miscelânea de magia, misticismo e simbolismo cristão.
A produção não tem a imponência e magnitude de O Senhor dos Anéis, mas merece respeito. Torna-se um caso peculiar de filme para crianças, exatamente por ser infantil. De uns tempos pra cá, as produções voltadas para os pequenos têm refletido temáticas menos ingênuas, na tentativa óbvia de não agradar apenas às crianças, mas também aos mais velhos, que acompanham a meninada ao cinema. Dirigida por Andrew Adamson (dos dois Shrek, alguns dos infantis mais adultos de que se têm notícias), Nárnia dá credibilidade com elegância às fantasias dos mais novos.
Não que falte à história idéias mais elaboradas entre uma brincadeira de criança e outra. Do Minotauro ao leão que dá sua vida para salvar um pecador e torna a viver, o que há em abundância na obra de Lewis são referências embutidas nas entrelinhas - sejam da mitologia grega ou da cristã. Aslam (voz de Liam Neeson) é o verdadeiro rei, o messias há tanto esperado e os quatro irmãos humanos são a chave da profecia que se cumpre: a libertação de Nárnia, que há cem anos vivia coberta por uma neve eterna, sob a tirania da Feiticeira Branca (Tilda Swinton). Mas, apesar de todo esse subtexto, As Crônicas de Nárnia é essencialmente uma história infantil, sobre as fantasias e o universo de imaginação que existem na mente das crianças.
Os heróis são os Pevensie (os filhos de Adão e as filhas de Eva): irmãos ingleses levados para o interior quando começam os bombardeios alemães a Londres durante a Segunda Guerra Mundial. Em um dos quartos da nova casa, descobrem um guarda-roupa cujo fundo é uma passagem para Nárnia e, a partir daí, terá início uma luta épica para salvar esse reino mágico, povoado por animais falantes, faunos, centauros e criaturas monstruosas. As crianças serão cavaleiros, reis e rainhas nessa terra. Por fim, as fantasias soam tão verdadeiras que já não sabemos mais se o mundo real fica dentro ou fora do armário.
O primeiro momento do filme, que transcorre à medida que os irmãos vão, um a um, descobrindo o segredo do guarda-roupa, é adorável. Muito bem feito e desenvolvido, carregado de suspensão e mistério. São essas primeiras cenas que conquistam o público e fazem-no se interessar pela história. O meio da trama é mais irregular e cai um pouco, mas Adamson parece perceber a falha e tenta consertá-la nos últimos momentos, em uma batalha de encher os olhos entre a Feiticeira Branca e os seguidores de Aslam. Os momentos finais recuperam a doçura dos primeiros. O elenco infanto-juvenil tem carisma e, considerando-se que na maior parte do tempo contracenaram com “dublês” dos personagens digitais, fizeram bonito. Georgie Henley se destaca como a pequena Lucy, encantadora e sincera ao extremo, sobretudo nas cenas com James McAvoy (também encantador como fauno Sr. Tumnus).
Tecnicamente, o filme não é ruim. Tem bons efeitos, mas não faz nada além daquilo que já foi mostrado em produções como a de Peter Jackson ou em alguma das sagas de Harry Potter. Muitas vezes não chega nem perto de fazê-lo e não é por eles que Nárnia se destaca.
Não pretendo discutir se a versão cinematográfica da aventura dos irmãos Pevensie foi realizada em conformidade com o livro. Toda essa discussão de fidelidade à obra original costuma me soar um bocado recorrente. Um livro é um livro, demora dias, semanas ou meses para ser lido e absorvido de acordo com a imaginação de quem o tem em mãos, e não é a ele que se refere a minha análise. Um filme é um filme, materialização do que um determinado grupo imaginou sobre uma história e leva apenas algumas horas para ser consumido. É a isso que me atenho. Se As Crônicas de Nárnia conseguiu ser o retrato perfeito do que Andrew Adamson e sua equipe imaginaram para o livro de C. S. Lewis, eu não sei. O filme é bonito, caprichado, delicado e honesto. Tem suas falhas e não consegue ser grandioso a ponto de embasbacar. De quaquer forma, sendo o primeiro trabalho de Adamson em um set de gravações, à frente de atores de carne e osso em uma super-produção, mostrou-se um feito competente do pai de Shrek. Se ele continuar a seguir as pegadas de Peter Jackson na Nova Zelândia, pode ser que se mostre um discípulo bem interessante.

2 Comentários:

Às 1:20 PM , Blogger Marcela Bertoletti disse...

Adorei as cronicas de narnia, foi um filme que eu fui assistir sem nenhuma pretensão, não conhecia a historia nem nada, e gostei muito. Acho q é um filme que agrada todas as idades. E com ceteza a Lucy é a coisa mais fofa do mundo!

 
Às 2:01 PM , Blogger Isabella Goulart disse...

Pois é.. o filme é bem bonitinho! É inocente. Acho que isso foi o que mais me chamou a atenção...

 

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