terça-feira, outubro 25, 2005

A Noiva Cadáver

Uma história sobre paixão, romance e assassinato a sangue frio. Uma animação em stop-motion com as vozes de Jhonny Depp e Helena Bonhan Carter. Um filme de Tim Burton. A Noiva Cadáver (Corpse Bride, EUA, 2005) tem motivos de sobra para atrair o público. Poucos cineastas contemporâneos despertam o amor – ou o ódio – do espectador como esse excêntrico californiano de 47 anos. Polêmicas à parte, há algo que não se pode negar. Burton consegue imprimir com habilidade sua marca às produções que dirige. E A Noiva Cadáver não desmente seu estilo. A começar pelas parcerias que repetiu. Essa é a quinta vez em que Jhonny Depp protagoniza um filme de Tim Burton. É também seu quarto trabalho com Helena Bonhan Carter (sua esposa na vida real), o terceiro com Chistopher Lee e o segundo com Albert Finney. E se você já está familiarizado com o estilo do diretor de Edward Mãos de Tesoura e Ed Wood, sabe que em sua cartilha jamais faltam a fotografia sombria, o humor irônico, o sarcasmo e uma sorte de peculiares bizarrices nas entrelinhas.
Nessa animação de 78 minutos, em que os protagonistas são bonecos de massinha, Burton tira mais uma vez da gaveta seu universo singular para contar a história de Victor Van Dorst (Jhonny Depp), um jovem que está de casamento marcado com uma moça que sequer conhece. Os pais de Victor são ricos emergentes e desejam ver o filho casado com uma jovem de família tradicional. Em contrapartida, os pais de Victoria Everglot (Emily Watson), a noiva prometida, estão falidos e vêem no casamento da filha a única saída para a penúria. Para os Van Dorst e os Everglot, o matrimônio não é mais do que um acordo de interesses. Útil, mas nunca agradável. Victor e Victoria sofrem com esse espírito prático dos pais. Ambos são românticos, sonhadores e sensíveis. Sentem-se como estranhos dentro de suas próprias famílias. E ao se conhecerem, um dia antes do casamento, apaixonam-se imediatamente. Mas uma reviravolta acontece e, num terrível engano, Victor acaba se casando com Emily (Helena Bonhan Carter), a noiva cadáver.
No universo de Tim Burton, nada é muito simples. E ao longo da história vamos percebendo que nesse filme não há apenas uma mocinha que complete o herói. Em determinado momento não sabemos mais qual das duas merece ficar com Victor, porque ambas são perfeitas para ele. Emily não respira e não tem a face corada de Victoria. Tem um corpo já em decomposição, com ossos à mostra, um olho que salta e um verme metido à consciência dentro da cabeça. Mas tem sensibilidade para a música, para a dança e aspira por um amor que não teve em vida. E ainda que seu coração não bata mais, ela é capaz de derramar lágrimas ao perceber que Victor está envolvido com outra mulher.
A fotografia sombria, em tom cinzento, do mundo dos vivos lembra o ambiente medonho de A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. O mundo de cima é frio e assustador. Mais triste do que o mundo de baixo, terra dos mortos, cujo colorido lembra bastante Os Fantasmas se Divertem. Para Tim Burton, os defuntos parecem ter mais alegria e desprendimento do que os vivos. Danny Elfman, outro parceiro habitual do diretor, volta a colaborar na composição da trilha. As músicas que fazem as vezes de diálogos são divertidas, explicativas e repletas de alfinetadas. Têm um humor afiado que consegue fazer rir e emocionar.
Em A Noiva Cadáver Tim Burton está em casa: no mundo incomum que sabe delinear tão bem, ao lado de gente em quem confia e se sente à vontade. Quem aprendeu a apreciar suas peculiaridades sabe que mergulhar no universo de Burton é sempre uma experiência nova e interessante. Nessa sua obra mais recente, esse cineasta nada convencional mostra outra vez que estranhamento também pode ser sinônimo de beleza, lirismo e poesia.

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