segunda-feira, setembro 19, 2005

Los Angeles - Cidade Proibida

Os créditos iniciais, trazendo os personagens fictícios inseridos em fotos de época ao lado de personalidades como Marilyn Monroe e Frank Sinatra, sugere bem a ambientação: Los Angeles, início dos anos 50. Cidade do sol, das oportunidades, do cinema e suas estrelas. Mas a cidade dos anjos é também lugar para o crime organizado e a corrupção, um lado nada glamouroso que Hollywood não se interessava em mostrar. Dentro desse meio caótico, de luxo e obscuridade, somos apresentados a três policias, que guardam diversas motivações e princípios. Bud White (Russel Crowe) é truculento e capaz de usar meios escusos para levar a cabo aquilo que acredita ser justo, mas não se sente bem em relação à violência contra indefesos e abomina acima de tudo a agressão física a uma mulher. Ed Exley (Guy Pearce) é inteligente e caxias ao extremo, avesso ao suborno e à violência, mas capaz de qualquer coisa para construir uma boa carreira. Jack Vincennes (Kevin Spacey) é consultor do show policial Badge of Honor e costuma auxiliar o jornalista Sid Hudgens (Danny DeVitto) a armar flagrantes sensacionalistas em troca de notoriedade e algum dinheiro. Após um escândalo dentro da polícia que, por motivos distintos, coloca os três homens dentro da mesma divisão, eles se verão envolvidos na investigação de um grupo de assassinatos. Uma trama que se revela cada vez mais misteriosa e torna esses policiais tão diferentes mais próximos.
É esse roteiro inteligente, entre outras coisas, que faz de Los Angeles – Cidade Proibida (L. A. Confidential, EUA, 1997) um grande filme. O enredo combina uma ótima trama policial, bastante versátil, com uma certa profundidade crítica. À época do lançamento da fita, discutiu-se bastante se ela era um noir ou não. Há realmente muitos elementos que encaixam o filme dirigido por Curtis Hanson (de Garotos Incríveis) dentro do gênero, apesar de a fotografia, extremamente clara, contrariá-lo. Em primeiro lugar, o início da década de 50, época em que se baseia a história, foi berço dos grandes policiais noir de Hollywood. Como nos clássicos do gênero, os heróis são solitários, desiludidos e presos ao passado. A personagem de Kim Basiger, a prostituta Lynn Bracken, cumpre o papel da mulher fatal e misteriosa. Os diálogos explicativos, que muitas vezes evidenciam a personalidade e os motivos de cada personagem, assim como o humor de certos comentários, são também típicos. Com tal combinação de elementos o filme se mostra um clássico narrativo noir, mas que obviamente pretende ser mais do que isso e ir além do gênero para trazer à tona a verdadeira Los Angeles da época.
Tudo no filme é imprescindível para o decorrer da história. Não há cenas ou falas desperdiçadas. A trama é dinâmica e foi muito bem conduzida pelo diretor. A certo ponto, quando o espectador já está instigantemente absorvido pelo enredo, a história sofre uma reviravolta surpreendente, de cortar a respiração, como só os melhores suspenses são capazes de fazer. E para compor o bom trabalho ao lado da direção segura e do roteiro de qualidade não faltam bons atores. Todo o elenco está muito bem, oferecendo ao público atuações na medida certa para personagens muito diferentes entre si. Russel Crowe, Guy Pearce, Kevin Spacey e James Cromwell (de Baby - o porquinho atrapalhado, aqui como o capitão Dudley Smith) dão vida aos personagens centrais da trama e não falham na tarefa de convencer - e envolver - o espectador. Surpreendente é que, dentre tantas atuações de qualidade, a única premiada tenha sido Kim Basiger. Apesar de cumprir bem o papel da prostituta que tem a fisionomia de Verônica Lake, sua personagem não tem notoriedade suficiente na trama para dar a Basiger um momento sequer que justifique o globo de ouro e o oscar que levou.
Das muitas indicações que recebeu, Los Angeles – Cidade Proibida, só ganhou o oscar de melhor roteiro adaptado, além dos já citados prêmios na categoria de atriz coadjuvante. As controvertidas premiações de Basiger podem, talvez, ter sido um tributo à boa qualidade do filme como um todo, pois é triste pensar que a inteligência de uma produção como essa perdeu o oscar de melhor filme para as horas (e litros) de água-com-açúcar de Titanic, em 1998...

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