segunda-feira, agosto 22, 2005

Réquiem para um sonho

Réquiem é um termo fúnebre, associado ao ofício dos mortos. Em Réquiem para um sonho (Requiem for a dream, EUA, 2000), os personagens, embora não saibam, irão percorrer, cada um ao seu modo, um doloroso percurso repleto de ilusões, picos e quedas para verem seus sonhos irrecuperavelmente enterrados no final. A história começa a ser apresentada entre os créditos de abertura. Ao som de uma música instrumental extremamente angustiante, que sugere bem o tom do filme, acompanhamos os personagens de Jared Leto (Harry Goldsfarb) e Marlon Wayans (Tyrone C. Love) levando a televisão da mãe de Harry até a loja onde será penhorada. Não é a primeira vez que ele vende a televisão, o único escape de sua mãe velha e sozinha, interpretada por Ellen Burstin. Tyrone, Harry e sua namorada Maryon Silver (Jennifer Connely) são viciados em heroína e precisam de dinheiro para sustentar o vício. Aliás, essa é a premissa principal do filme dirigido por Darren Aronosfsky: vícios e os resultados que eles podem trazer.
É bem verdade que, analisando a história de forma mais ampla, ela pode soar exagerada. Mostra o vício chegando às últimas conseqüências. Oferece uma trágica destruição da vida dos protagonistas, sem espaço para esperanças de recomeço. Se o espectador enxergar o filme como uma previsão do caminho que todo e qualquer viciado em drogas, de anfetaminas a heroína, irá obrigatoriamente percorrer, vai provavelmente considerá-lo moralista. Mas Réquiem para um sonho acompanha a trajetória de quatro personagens, as suas histórias de destruição, e é a elas que me atenho. Por essa visão mais restrita, sem a preocupação de uma moral a ser passada para o público, o filme é angustiante. Um retrato triste da vida dos protagonistas durante três estações.
A história começa no verão. Harry e Maryon sonham em abrir uma loja de roupas. Assim como Tyrone, querem se dar bem na vida e ganhar dinheiro. Para isso os dois amigos, além de viciados, se tornam distribuidores de droga, um negócio promissor que a princípio tem bastante êxito, dando aos três a esperança de alcançarem seus objetivos. Enquanto isso, Sara, a mãe de Harry, recebe um telefonema e acredita ter sido convidada para aparecer em seu programa de TV favorito. Um pouco acima do peso, ela quer emagrecer para conseguir entrar novamente em seu vestido vermelho. Começa a tomar anfetaminas, emagrece, se sente bem e querida. Mas no outono começa a queda. Harry, Tyrone e Mary não estão mais prosperando como antes e seu vício incontrolável em heroína agrava os problemas. Sara está ainda mais magra e acaba se viciando nos remédios para perder peso. A realidade é cada vez mais sufocante e o inverno traz a morte para os sonhos de cada um deles.
O que afunda de fato os personagens de Réquiem para um sonho em vícios sem cura é a busca de algo que lhes dê sentido, de uma vida nova diferente daquela que os angustia. Darren Aronofsky faz uso de recursos competentes para compartilhar com o espectador essa sensação aflitiva. O filme é repleto de close-ups e planos subjetivos. As fantasias dos personagens são mostradas com frequência. Quando algum deles se droga é apresentada sempre a mesma seqüência, que se repete cada vez mais à medida que o filme transcorre. Os planos são em geral bem curtos, havendo mais de 2000 cortes (normalmente têm-se de 600 a 700). Em certos momentos a tela se divide ao meio e é possível que o espectador tenha dois pontos de vista diferentes de uma mesma cena. Esses artifícios habilmente utilizados fazem o público entrar nas alucinações dos personagens. O filme vai se tornando progressivamente mais angustiante, impressão acrescida pela trilha sonora. A cada instante parecem haver menos saídas. E o final da história vem confirmar o que Réquiem para um sonho é desde as primeiras cenas: incômodo, pesado, deprimente e chocante. É necessário um estômago forte para sair sem nenhuma perturbação desse filme.

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