segunda-feira, agosto 08, 2005

O espanta tubarões

O espanta tubarões (Shark Tale, EUA, 2004) é um filme interessante. Não tem o glamour de outras animações recentes como Procurando Nemo ou um enredo inovador como Shrek. Mas traz um sabor a mais para os cinéfilos de plantão, que podem se deliciar com as inúmeras sacadas sobre filmes e papéis relacionados aos atores que dublam os personagens principais do desenho. Os peixinhos e tubarões têm muito da personalidade dos próprios atores, ou de momentos de suas carreiras. As alusões a O Poderoso Chefão são claras e bem divertidas. Don Lino, o comandante dos tubarões, traz até mesmo a pinta de Robert De Niro, que oferece uma dublagem carregada do sotaque italiano de seu Vito Corleone na segunda parte do filme de Coppola. O tubarão carcamano tem o mesmo apego à família e aos seus valores, seus sócios lhe oferecem a mesma forma de cumprimento e o mesmo temor e respeito que são oferecidos a Don Corleone. Em determinado momento, um dos personagens chega a dizer “um desses capangas apagou meu tio Vito”.
Mas, apesar de tantas referências a O Poderoso Chefão, O espanta tubarões é um típico filme de Will Smith, que dubla o peixe protagonista Oscar. A trilha sonora e as referências hip-hop são bem o espírito do astro. Aliás, melhor seria dizer que a animação da Dreamworks é de fato uma mistura dos filmes de Smith com as comédias-românticas protagonizadas por Renée Zellweger, que faz a voz da peixinha Angie. E isso o tubarão vegetariano Lenny (voz de Jack Black) constata ao dizer a Oscar, no auge de tensão da história: “é o filme clássico”. A certo ponto tudo o que o atrapalhado e divertido personagem de Will Smith quer é ficar com a mocinha (ou melhor, peixinha) que lá para o desenrolar da história descobre que ama. E a sem sorte no amor personagem de Renée ganha sua cara metade no desfecho da trama. Isto parece um tanto quanto familiar?
O interessante é que essas auto-referências não soam de maneira nenhuma clichês ou forçadas. Ao contrário, são capazes de divertir muito o público que absorve as sacadas. Um ótimo momento é quando Oscar sai da boca do tubarão e diz para a câmera “you had me at hello”, uma das frases mais célebres do cinema, dita por Renée em Jerry Maguire. No quesito referências, há ainda piadas com os lábios de Angelina Jolie, que dubla a “peixe fatalle” Lola, e alusões a Titanic, como o quadro de Rose pendurado na parede do tal navio onde Don Lino reside. Mas nem só disso vive o filme. Há piadas não referenciais que garantem boas risadas. Lenny é um tubarão vegetariano, e em seu meio isso é tão embaraçoso e difícil de lidar quanto em nossa sociedade é o homossexualismo. O espanta tubarões é diversão garantida. Leve e inspirado, para qualquer idade ou gosto cinematográfico.

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