segunda-feira, agosto 08, 2005

Beleza Americana

Beleza Americana (American Beauty, EUA, 1999) foi o primeiro filme dirigido pelo diretor Sam Mendes, que vinha de uma vasta experiência teatral. Sucesso de público e crítica, o filme convidava o espectador a olhar mais de perto a vida de um casal suburbano comum norte-americano. Traz como protagonista o quarentão Lester Burham (Kevin Spacey, em aclamada interpretação), um homem frustrado, que se sente impotente perante sua vida. Sua esposa Carolyn (Annete Benig, não menos elogiada) é corretora de imóveis e valoriza antes de tudo os bens materias e a aparência. Lester é um homem anestesiado, que desperta ao conhecer Angela Hayes (Mena Suvari), amiga de sua filha adolescente Jane (Tora Birch), que se torna para ele uma espécie de Lolita. Estimulado pela beleza da jovem, Lester começa a mudar sua vida e quebrar o mundinho de aparência em que há muito vivia com sua família. Pede demissão do emprego monótono, após chantagear o chefe, e passa a gastar grande parte de seu tempo fazendo exercícios físicos e fumando maconha em sua garagem. O basta que Lester dá em sua antiga vidinha de estabilidade é uma tentativa de dar a volta por cima. Mas como resultado dessa reconstrução, ele acaba desestruturando a vida de muitos ao seu redor. Todo esse incômodo causado culmina em seu assassinato. O filme tem início com a narração de Lester, já morto, e a partir disso faz-se uma retrospectiva cronológica que mostra ao público o que levou o personagem até aquele ponto. À exemplo de Crepúsculo dos deuses, de Billy Wilder, com seu Joe Gillis, Beleza Americana também mostra ao espectador a trajetória de um homem que já se encontra morto no começo da história. E à medida que a trama vai se desenrolando, vão surgindo os suspeitos do crime: sua esposa Carolyn, fustrada com o fim da estabilidade que havia construído, seu novo vizinho, o Coronel Fitts (Chris Cooper), um militar enérgico e reprimido, e Ricky (Wes Bentley), o esquisito filho do militar, que vendia drogas e nutria uma atração por Jane.
American Beauty é um tipo de rosa sem cheiro e sem espinhos, muito cultivada nos Estados Unidos. O título do filme é uma metáfora ao vazio do cidadão americano típico. Beleza americana sugere uma beleza para consumo, uma imagem a ser vendida, e é esse o grande cerne do filme de Sam Mendes: uma beleza de vitrine, para ser admirada de fora. Por isso o slogan “look closer…” que o filme traz. É uma ácida, porém sutil crítica à sociedade norte-americana de consumo: a aparência por fora é soberba e harmônica, sugerindo a perfeição dos anúncios publicitários, mas por dentro as coisas estão em pedaços, e a imagem de felicidade estável é construída em cima de vidas frustradas, que por terem se perdido sentem uma enorme necessidade de bens materiais a serem expostos.
Durante todo o filme vemos alusões à rosa. A cena em que Lester está no ginásio assistindo a filha em uma apresentação de “cheerleaders” e, vendo Angela pela primeira vez, é atingido por pétalas de rosas vermelhas, marca a produção. O vôo das pétalas foi uma bela proesa realizada pelo diretor de fotografia, Conrad L. Hall. Algumas cenas depois, em um sonho de Lester, vemos Angela imersa em uma banheira cuja água está coberta por pétalas de rosas rubras. É um novo momento de forte presença da rosa, e da cor vermelha, que também marca o filme.
A película foi o primeiro filme de orçamento médio a sair nos cinco últimos anos de funcionamento da DreamWorks anteriores a 1999. Mendes acabou retirando quase cinco minutos do fim do filme na edição final, alterando radicalmente o fim da história. Beleza Americana foi sucesso de crítica nos EUA à época de seu lançamento. A comédia dark sobre a vida de uma típica família de classe média americana vista por dentro caiu nas graças de público e críticos, ocupando lugar na história do cinema como uma respeitável produção, que merece, sim, um olhar mais de perto.

1 Comentários:

Às 11:59 PM , Blogger Na sombra da dúvida disse...

Muito bom seu comentário, o filme realmente é especial. Só penso que a crítica não serve apenas ao típico Cidadão Americano.

 

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