segunda-feira, agosto 08, 2005

Sin City

Para os que estão acostumados a ver o mundo das HQs no cinema em fitas como Homem Aranha, X-Men, ou Quarteto Fantástico, vale o aviso: Sin City – A Cidade do Pecado, como o próprio nome sugere, passa longe dos filmes protagonizados pelos heróis da Marvel, em temática e visual. O filme é um grande exercício técnico de construção de imagens, assustadoramente fiéis às histórias que lhe deram origem. Não existem sequer créditos de roteiro no longa: quadrinhos especialmente confeccionados foram usados como storyboard para a elaboração dos planos. Portanto, dizer que Sin City é uma adaptação das graphic novels publicadas por Frank Miller na década de 90 é balela. O filme é uma transcrição dos quadrinhos para as telas, resultando num visual excêntrico capaz de incomodar espectadores desavisados que entrem na sala de cinema sem saber o que esperar. Mas vai agradar muito aos fãs do cinema pop, ao estilo Quentin Tarantino: violência banalizada e caricatural, tão absurda que chega a divertir o público com as exageradas cenas, conduzidas por narrações sádicas.
A própria atmosfera dark da série de quadrinhos que lhe deram origem faz de Sin City, acima de tudo, um grande filme noir, recheado de homens durões, mulheres fatais, escuridão e suspense. O mundo criado por Frank Miller é sujo e ausento de maniqueísmos morais. Na cidade do pecado, é cada um por si. As mulheres são tão belas quanto perigosas, a violência e o homicídio são quase inevitáveis e a corrupção tem lugar comum. A partir dessa premissa se desenvolvem as tramas. O longa apresenta um breve momento inicial para introduzir o espectador no ambiente de Sin City. Mas são as histórias do ex-lutador de rua Marv (Mickey Rourke), do misterioso Dwight (Clive Owen) e do policial honesto Hartigan (Bruce Willis) que movem o filme. Há inserções divertidas de elementos de uma trama em outra, apesar de elas não terem obrigatoriamente uma conexão. Robert Rodriguez pretendia inclusive conectá-las a princípio, mas tal idéia acabou não se mostrando viável. Entretanto, existe em comum o que de fato move os três protagonistas durões: o desejo de vingança ou proteção de suas mulheres em apuros na cidade do pecado, ainda que tais beldades não sejam exatamente indefesas.
Sin City é uma produção peculiar desde sua criação, e isso se mostra já nos créditos de abertura. Para garantir a fidelidade do filme às graphic novels, Robert Rodriguez fez questão de alçar Frank Miller ao posto de co-diretor. Como o sindicato não permite a existência de tal função, Rodriguez preferiu abdicar de sua filiação para manter Miller ao seu lado na condução do longa. E esse não participa do filme apenas como roteirista (se podemos assim dizer) e co-diretor. Frank Miller faz ainda uma pontinha como um padre que ouve as confissões de Marv. Outro convidado ilustre que colaborou em Sin City foi Quentin Tarantino, dirigindo a irônica seqüência de Clive Owen e Beniccio Del Toro tendo uma conversa no carro em movimento.
A perfeição visual do filme é tão grande que aparenta por vezes comprometer a narrativa. Mas se Robert Rodriguez almejava fidelidade na transposição de Sin City dos quadrinhos para as telas, foi exatamente o que conseguiu. E não só nas imagens, mas em todo o universo que foi capaz de criar, desde a escolha dos atores, fisicamente parecidos com seus personagens, até a elaboração das narrações. Embora sejam mais longas no filme, essas mantém o espírito das graphic novells: ácidas, fortes, repletas de um humor cortante.
A forma que Rodriguez escolheu para dar vida a uma série de quadrinhos não é superior e nem inferior aos formatos que o cinema conheceu anteriormente nesse quesito. É apenas uma opção estética do diretor, que traz em sua fórmula nomes significativos em Hollywood, referências pop, muita tecnologia digital e publicidade. Com todo esse universo criado em volta da história, o mínimo a ser dito é que Sin City vale o seu ingresso de cinema. E merece ser visto repetidas vezes, pois tem um belo valor como experiência cinematográfica.

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