quarta-feira, outubro 12, 2005

Os Irmãos Grimm

Em certo momento de Os Irmãos Grimm (The Brothers Grimm, EUA, 2005), os protagonistas Wilhem (Matt Damon) e Jacob (Heath Ledger), ao se verem no meio de uma situação misteriosa que não sabem como resolver, começam uma discussão. O prático, cínico e realista Will grita para o irmão que aquilo não é uma fábula. E o sonhador Jake responde categoricamente: “então esse não é o seu mundo”. O diálogo resume com perfeição o espírito do longa. Para gostar de Os Irmãos Grim é preciso, em primeiro lugar, se familiarizar com o universo peculiar que o diretor Terry Gilliam criou para esse conto de fadas sombrio. Responsável por filmes tão diversos como os do Monty Phyton, Brazil-O Filme e Os 12 Macacos, seus trabalhos têm em comum o estilo, visualmente marcante. Shrek faz graça com os contos infantis. O filme de Gilliam transforma-os numa história de terror. O visual carregado e incomum causa um impacto inevitável, para o bem ou para o mal. É exagerado, escuro, pesado, muitas vezes nojento e, sim, belíssimo ao seu modo. Alguns cenários são mais teatrais do que cinematográficos. Mas para toda essa excentricidade do diretor há uma desculpa. É fácil perceber que realismo não era uma das maiores intenções de Gilliam nessa fábula à sua maneira.
Por trás do exuberante visual está a trama simples do filme, que se mostra uma aventura romântica divertida, recheada de referências, mas nada complexa. Na Europa do século XVIII, os irmãos Grimm percorrem a Alemanha ocupada por Napoleão Bonaparte ganhando dinheiro de forma escusa. De povoado em povoado, conquistaram fama exterminando bruxas, gigantes e monstros que eles mesmos criavam. Mas a engenhosa estratégia dos irmãos acaba sendo descoberta pelo comando francês e, para escaparem da punição, eles terão que resolver o mistério que envolve uma pequena aldeia, onde meninas começaram a desaparecer sem explicação.
O filme traz um delicioso humor negro, quase sempre inofensivo. É capaz de fazer referência à muitos dos mais famosos contos-de-fadas dos irmãos. À exemplo de Shakespeare Apaixonado, os autores aqui viram personagens de suas próprias histórias. Interessante como o roteiro foi capaz de criar não só esse diálogo entre autores e obras, mas também uma boa conexão das obras entre si. De repente, nesse universo fantástico e apavorante de Irmãos Grimm, a madrasta da Branca de Neve e Rapunzel se tornam uma só personagem. Chapeuzinho-vermelho, João e Maria, Bela Adormecida, Cinderela e tantos outros emprestam elementos para que o roteiro brinque com a imaginação do espectador, inserindo numa trama de aventura típica todas essas referências que os irmãos usariam futuramente em suas célebres histórias e que há séculos fazem parte de qualquer infância.
Heath Ledger e Matt Damon se mostraram ótimas escolhas para os protagonistas. São jovens, trazem bons trabalhos no currículo e se esforçaram bastante nesse filme. Eles dão a essa produção tão carregada de elementos grande parte de sua leveza. Curioso que, a princípio, Damon interpretaria Jake e Leadger, Will. Mas, a pedido dos dois atores, os personagens acabaram sendo trocados. Os Grimm são donos de personalidades que se completam. Will é exageradamente realista. As fantasias que cria com o irmão são para ele uma forma de ganhar a vida apenas. Com Jake é exatamente o contrário. Nada é mais sério do que as histórias que elabora. Foi enganado na infância por um homem que lhe ofereceu feijões mágicos em troca do único bem de sua família: uma vaca (não soa familiar?). Por isso, vive sendo atormentado pelo irmão, cuja incredulidade será abalada ao se depararem com acontecimentos fantásticos que não saberão explicar. Jake acredita de tal forma naquele mundo de sonhos que seu destino acabará se parecendo com o de um verdadeiro príncipe encantado.
Os Irmãos Grimm é uma fábula dark, com visual imponente, movimentos de câmera que causam vertigem e criatividade. Dos personagens principais ao cenário, todo o universo aqui gira em torno da fantasia. Mas nos filmes tudo pode ser absurdo. E como diz a vilã interpretada por Monica Bellucci, a realidade costuma ser mais triste do que a ficção. Por isso, o melhor mesmo é ficar à vontade no mundo estranho de Terry Gilliam, deixar-se envolver e torcer, perante todas as adversidades, pelo “e viveram felizes para sempre.

1 Comentários:

Às 10:07 PM , Blogger Rob disse...

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