segunda-feira, outubro 10, 2005

A Feiticeira

A Feiticeira (Bewitched, EUA, 2005) é uma produção confusa. Não que seu enredo, absolutamente simples, traga características para assim classificá-la. Com “confusa” quero dizer que o filme mostra um certo número de erros e acertos que se equilibram na balança e tornam difícil dizer se essa comédia hollywoodiana despretensiosa é eficiente ou não. A fórmula é velha e bem clara: um elenco de astros (dos protagonistas Nicole Kidman e Will Ferrel a coadjuvantes como Shirley MacLaine e Michael Caine), numa premissa bobinha, misturando romance e comédia, para abocanhar o grande público. Isabel Bigelow (Kidman) é uma bruxa boazinha que se muda para a Califórnia em busca de uma existência regular, a contragosto do pai (Caine). Ela quer ser normal e encontrar um homem perdido que precise desesperadamente dela. Acredita ter achado isso em Jack Wyatt (Ferrel), um ator de cinema em decadência convidado para protagonizar o remake de A Feiticeira, o bem-sucedido seriado de TV da década de 60. Envolvida por ele, Isabel aceita representar Samantha, a feiticeira da série. E, ao se sentir enganada por Jack, que queria apenas uma parceira de cena a quem pudesse ofuscar, a bruxinha vai causar uma série de confusões tentando se vingar. Mas essa poção mágica há tempos usada em Hollywood, que se mostrava bastante rentável, parece estar dando sinais de esgotamento e a história da feiticeira que queria ser mortal não teve o êxito de público esperado pelos produtores.
Como a grande maioria dos filmes, esse é feito de prós e contras, que são aqui bem evidentes. Ele é ágil, traz algumas boas tiradas e em geral consegue divertir. A diretora Nora Ephron (Mensagem para você, Bilhete Premiado) acertou ao tentar (e em boa parte conseguir) manter o espírito ingênuo da série, exibida entre 1964 e 1972. Outro ponto positivo é A Feiticeira não ser uma simples refilmagem com menos de duas horas do seriado e, sim, uma obra com diferenças sutis que dialoga de forma divertida com a que lhe inspirou. São claras as cenas que procuram criar uma semelhança entre as duas histórias e mostrar ao público que Isabel e Samantha têm muito - ou tudo - em comum. Nicole Kidman está, sobretudo no início do filme, muito bem, se mostrando uma heroína tão ingênua e simples quanto o filme pede. Papel, aliás, muito diferente dos que a atriz vinha escolhendo ultimamente, já que “simples” era a última palavra possível de ser usada para definir suas personagens mais recentes.
Por outro lado, Will Ferrel, saído há algum tempo do Saturday Nihgt Live para ser o comediante do momento, no papel do exageradíssimo Jack Wyatt está... exageradíssimo. Difícil imaginar como uma mulher em sã consciência, ainda que fosse uma bruxa, se apaixonaria por ele. Entretanto, Ferrel, que já mostrou em filmes como Melinda e Melinda ter bastante talento e carisma, merece ser destituído da culpa. O responsável por transformar Jack Wyatt em um personagem tão desinteressante é, na verdade, o roteiro fraco e equivocado, também de Nora Ephron. Sua atuação lembra muito Jim Carrey, com caras, bocas e trejeitos performáticos. Carrey, inclusive, chegou a ser cogitado para o papel, mas, devido a outros compromissos, não pôde participar do filme. Talvez essa curiosidade possa explicar algo sobre a natureza exagerada de Jack Wyatt. Hollywood, provavelmente tentando aumentar a identificação do público com a produção, achou por bem adaptar a ingenuidade aos tempos modernos, o que acabou tornando a fita um bocado irregular. Defeito agravado pela escorregada que o filme dá no final, caindo na mesmice do melodrama romântico. E ver Steve Carrel (também criação do Saturday Night Live) surgir de repente como tio Arthur, fazendo vir à mente seu outro filme em cartaz – O Virgem de 40 Anos, que ainda me pergunto como conseguiu fazer tamanho sucesso – é um tanto quanto traumatizante.
Na disputa entre erros e acertos, pesa a irregularidade do filme e a sua obediência exagerada a uma fórmula que subestima o espectador. A Feiticeira não pretende ser mais do que diversão à lá sessão da tarde. O tipo de programa para quem quer entrar no cinema, esquecer da vida e não precisar pensar em muita coisa. Vários filmes anteriores a esse já mostraram que isso não é, de forma alguma, algo ruim. Mas o grande problema aqui é que os erros acabaram fatalmente pesando mais na balança. É mesmo uma pena.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial