sábado, novembro 19, 2005

Hora de Voltar

Seria inútil disfarçar. Eu confesso: tenho um fraco enorme por filmes despretensiosos que acabam se mostrando pequenas pérolas cinematográficas. Geralmente essas jóias - nem tão raras assim - têm em comum o fato de serem produções de tamanho médio que surpreendem pela sensibilidade e originalidade do roteiro, pelas boas atuações do elenco (estrelar ou não), pelo belo trabalho técnico e pela escolha perfeita da trilha sonora. Em resumo: são filmes harmônicos, onde todos os elementos se encaixam para proporcionar ao espectador aquele prazer indescritível de acompanhar uma boa projeção. No meio de tantas produções sem alma, cujas idéias são retalhadas pelo poder de veto do capital, são filmes desse tipo que me fazem crer que a indústria do cinema ainda tem futuro como arte e objeto de reflexão.
Hora de Voltar (Garden State, EUA, 2004) não enfrentou grandes problemas com a indústria. Na verdade, foi inteiramente financiado pelo produtor Gary Gilbert, que tirou U$2,5 milhões do seu próprio bolso para bancá-lo. Gilbert fez um ótimo negócio apostando nessa estréia de Zach Braff (o J.D de Scrubs) como diretor, já que, depois de ser exibido no Sundance Film Festival, o filme foi vendido à 20th Century Fox e à Miramax por U$5,00 milhões.
Braff não teve pouco trabalho em sua estréia. Além de dirigir com uma competência admirável e protagonizar o filme, foi responsável pelo roteiro (parcialmente auto-biográfico) e pela escolha da trilha. Ela cai como uma luva para o estado de espírito do protagonista, sendo ao mesmo tempo forte, sensível e melancólica. Andrew Largeman (Braff) é um ator mal-sucedido que trabalha em Los Angeles como garçom. Leva uma vida insípida devido aos fortes remédios que toma desde criança, receitados pelo pai, que o deixam em estado permanente de torpor. Após a morte da mãe ele é obrigado a voltar à Garden Sate, sua cidade natal, onde não pisava há tempos. E, à partir do convívio com os companheiros do passado e com uma nova amiga (Natalie Portman) ele vai descobrir sensações e sentimentos que também foram entorpecidos pela vida que costumava levar. Mas, acima de tudo, ele vai se descobrir.
O que há de original e mais delicioso em Hora de Voltar é o desenvolvimento da trama, povoada de personagens estranhíssimos, mas absolutamente humanos, de situações absurdas, mas perfeitamente coerentes e repleta de uma delicadeza que a faz a vida parecer difícil, mas ainda assim irresistível. Impressionante como os excêntricos personagens soam verossímeis, fazendo perceber o quanto cada um de nós é também cheio de esquisitices. A conclusão lógica é que não há nada mais normal do que ser bizarro. Nada mais humano do que se achar estranho e sem lugar. Nada mais peculiar do que uma vida. O que Andrew recupera ao fim dos poucos dias que passa em Garden State é uma existência sofrível, mas capaz de ser sentida, a sensação de lar que havia perdido há tempos e, sobretudo, a consciência de que essa vida é tudo o que ele tem.
A despretensão sempre cai bem a uma obra que tem muito a dizer. Hora de Voltar é melancólico e nostálgico, como muitas vezes é a vida. Tem um humor cuidadoso e uma perspicácia capaz de dar alegria ao que é triste. Simples assim, com inteligência, criatividade e sutileza, figura entre as pequenas pérolas que me fazem amar o cinema e o que ele ainda é capaz de fazer.

6 Comentários:

Às 11:14 PM , Anonymous Anônimo disse...

CARACA!!!!!
num gostei mto da critica naum... e mto grande... num vai caber em nenhum jornal da globo nem do jb... nem no folha de minas gerais, o estado de minas gerais, ou a filial da veja em minas, a incomparavel ÓIE!
piadas a parte, ta escrevendo bem a vera hien? esse tempinho de inutilidade e definhamento ate q ta te fazendo bem...
to com saudades viu? ve se volta, um dia desses... so da uma passadinha aki, por o papo em dia sabe...

 
Às 11:42 PM , Blogger Isabella Goulart disse...

Em primeiro lugar não existe "folha de Minas Gerais"! Tsc, tsc.. esses cariocas não conhecem nada além dos limites do Cristo Redentor, viu! Em segundo lugar, eu juro que tenho me esforçado pra diminuir os textos...

 
Às 9:19 PM , Anonymous Anônimo disse...

quem é o amigo carioca? fabriiiicio?

eu sempre gosto, mas já disse que quero ver uma do oliver twist aqui. tb quero de um filme brasileiro po. n tem nenhuma!

beijo coisinha

 
Às 9:42 PM , Blogger Isabella Goulart disse...

Sílvia Quebra-Barraco, não estreou Oliver Twist por aqui ainda... Tá, pode chamar minha terrinha de roça, já me acostumei... =[
E como assim não tem filme brasileiro aqui? E as 8 horas que eu gastei fazendo e refazendo a critica de 2 Filhos de Francisco?! Foram em vão?

 
Às 5:23 PM , Anonymous Anônimo disse...

ouuups.

esqueci. mas 2 filhos d francisco não conta po.

é muito pop.
hiuhiu

 
Às 5:29 PM , Blogger Isabella Goulart disse...

Mt pop, mas ainda assim nacional.
Diz logo então que vc quer que eu faça uma crítica de um filme nacional bem alternativo de bilheteria ínfima... Hehehe
Eu faço!

 

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