segunda-feira, novembro 14, 2005

Tudo Acontece em Elizabethtown

Drew Baylor (Orlando Bloom) é, segundo sua própria definição, um artista do mundo dos calçados, que trabalha para a maior empresa de esportes dos Estados Unidos. Ou melhor, trabalhava, já que, após produzir um tênis que gerou para a companhia um prejuízo de quase um bilhão de dólares, Drew perde o emprego e, de quebra, a namorada. Desesperado, ele volta para casa obstinado a cometer suicídio. Mas, enquanto colocava seu plano em prática, recebe um telefonema da irmã, avisando que seu pai havia falecido na pequena Elizabethtown e que Drew precisaria cuidar do funeral. A caminho de lá, sabendo que em alguns dias seu fracasso se tornaria público para todos aqueles que o admiram, ele conhece Claire (Kirstin Dunst), uma aeromoça maluquinha que se torna o sopro de esperança da vida que ele julgava perdida.
Tudo Acontece em Elizabethtown (Elizabethtown, EUA, 2005) é uma comédia-romântica sobre auto-descobrimento com ares de road movie. E talvez tanta pretensão tenha sido demais para a fita. Dirigido e roteirizado por Cameron Crowe (Quase Famosos, Vanilla Sky), o filme é bonitinho e bem simpático. Isso não se pode negar. Mas tem seus erros (muitos até), que pretendo discutir ao longo desse texto.
O maior de todos os problemas em Elizabethtown é a insistência. Algumas das melhores cenas pecam por insistirem demais, sendo desnecessariamente longas. É o caso da primeira reunião da família paterna de Drew e da coversa de horas entre ele e Claire no telefone (sim, ela é significativa e intencionalmente grande, mas não precisava ser tanto). Insistência é também o vício em que cai a trilha sonora. Ela é belíssima e absolutamente adequada ao estilo do filme, mas quase ininterrupta, o que acaba cansando o espectador.
Como comédia, o filme é regular. Tem boas piadas de humor negro, as melhores delas apenas visuais, e até que sabe fazer rir da desgraça. Mas, apesar de espirituoso, não consegue consolidar esse humor pouco ortodoxo claramente pretendido, o que é uma pena. Como trajetória de auto-descobrimento, ele é frustrante, não escapando muito do conteúdo dos mais que batidos manuais de auto-ajuda. Como road movie, se mostra eficiente (embora ainda recaia na conotação de auto-ajuda), mas essa faceta seria melhor aproveitada se tanto da história já não tivesse transcorrido antes que ela tenha início.
É como romance que Elizabethtown mostra o que tem de melhor e mais original. A princípio, têm-se a impressão de que, como tantos outros pontos no filme, esse também não seria capaz de se instaurar. Mas ele se instaura, e bem. Ainda que seja absurdo – ou talvez exatamente por isso – ele convence, atrai e conquista. Drew e Claire são desconhecidos que não têm motivo algum para se aproximarem. Ela seria apenas a aeromoça da companhia aérea pela qual ele viajava, e ele não seria mais do que um passageiro como outro qualquer. Mas os dois têm algo em comum que Claire percebe imediatamente. Ambos são, de algum modo, pessoas substitutas e por isso se conectam tão naturalmente. Pena o desnecessário final hollywoodiano dado para essa história ter feito escorregar um lado da fita que vinha se desenvolvendo tão bem.
A química entre Orlando Bloom e Kirstin Dunst é um dos pontos fortes do filme. Na primeira impressão, Claire soa um tanto quanto inverossímel. Mas Dunst encanta no papel, criando uma mocinha doce, independente e de grande empatia. Bloom consegue seus melhores momentos quando o romance está em desenvolvimento. De resto, ele é bonito, charmoso, mas não tem lá um grande talento dramático. Mostra carisma e até consegue nos fazer simpatizar com Drew, mas é um ator raso demais, incapaz de atingir as exigências de seu papel. É espantoso que Cameron Crowe tenha escrito o roteiro pensando nele para protagonista. De duas uma: ou o personagem de Bloom realmente ainda não se deu conta de tudo que lhe aconteceu, ou foi Bloom que não se deu conta de seu personagem.
Durante os 123 minutos desse filme, percebe-se sua ânsia de acertar. Mas ele não o faz por completo. Por vezes, parece se extraviar, saindo um pouco do seu caminho. Em geral, Elizabethtown é simpática, ainda que não te deixe totalmente à vontade. Desanda em suas pretensões, embora em alguns momentos seja capaz de te cativar de verdade. E todos sabemos que um filme é algo fundamentalmente subjetivo, que depende muito dos olhos de quem o está assistindo. Alguns poderão não encontrar nada que os encante nessa cidadezinha. Mas quem sabe Elizabethtown não tem algo que encante você?

2 Comentários:

Às 11:34 AM , Anonymous Anônimo disse...

sinto-me feliz de servir de inspiração para suas criticas! Pelo menos, o titulo de musa eh mais honroso que o de cobaia!!! ;P
ficou otimo!

 
Às 11:37 PM , Blogger Isabella Goulart disse...

Hahahahahaha!! Vc pode ser musa e cobaia, e assim eu terei duas profissionais pelo preço de uma! Mas bom, minhas críticas têm um quê de experiência sociológica: o filme te encantou, então quer dizer que Elizabethtown pode mesmo ter algo cativante...

 

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