sábado, janeiro 14, 2006

Soldado Anônimo


Sabe aquele velho chavão sobre estar no lugar certo na hora certa? Pois é, adaptando a premissa para o meio cinematográfico, pode-se dizer que nada melhor para ser alçado ao sucesso do que ter em mãos o roteiro certo incentivado pelo produtor certo. Em 1999, Sam Mendes, um consagrado diretor de teatro inglês estreante no cinema, provou ser também o homem certo para levar às telas um olhar corrosivo e humorado da famíla norte-americana típica no premiado Beleza Americana. Seis anos depois e apenas mais um filme no currículo (Estrada Para Perdição, de 2002), ele volta aos cinemas com Soldado Anônimo (Jarhead, Estados Unidos, 2005). O diretor ainda não repete o brilhantismo do primeiro trabalho, mas retoma a boa forma criativa, lançando mão de sua espirituosidade para contar a história de Tonny Swofford (Jake Gyllenhaal), um jovem atirador americano mandado para a primeira Guerra do Golfo.
O grande problema quando se assiste ao filme é tentar enxergar algum engajamento político nele. O que o longa tem de mais delicado - e polêmico - é justamente o fato de ser apolítico. O tema da primeira invasão dos Estados Unidos ao Iraque torna-se inevitavelmente atual devido ao contexto histórico que vivemos. Não é que o diretor ou o roteiro o evitem. A trama simplesmente não entra na questão ideológica. Assim, Soldado Anônimo torna-se um filme sobre guerra, mas não exatamente um filme de guerra. Pelo menos não da forma como estamos acostumados a ver. E embarcar com o diretor nessa visão peculiar do conflito pode ser uma experiência inusitada e bem interessante.
Em um momento ou outro o tema até rende inevitáveis alfinetadas à postura ianque, que não mudou muito ao longo da história. Mas o que o filme procura evidenciar é o comportamento dos soldados americanos. Aqueles milicos treinados para serem máquinas de extermínio, enviados ao Oriente Médio para lutar em uma guerra política que foi realmente disputada e decidida no espaço aéreo, passaram meses acampados no deserto escaldante não fazendo muito mais do que teatro para a imprensa mundial. E a espera pela entrada iminente no conflito desenvolve uma tensão que mexe de forma agressiva com suas mentes. Daí o emblema do filme: “A guerra é um inferno. Esperar para entrar nela é pior”. O que se vê em grande parte do tempo são montes de testosterona descontrolada de homens desapegados a ideologias e ávidos por colocar em prática o que lhes foi ensinado. A verdade é que aqueles jovens não se alistaram por motivos nobres ou honrosos. O exército é apenas um trabalho como qualquer outro, cujos motivos a grande maioria não se importa em questionar ou conhecer. Excluindo-se aí o personagem de Jammie Foxx e seu inflamado discurso sobre amar cada dia que passou no exército – às vezes não é possível fugir de certas convenções hollywoodianas.
A direção de Soldado Anônimo lembra um bocado a de Beleza Americana. A trilha onipresente, que parece ter vida própria (novamente de Thomas Newman); a narração sarcástica; o humor ácido, fazendo piada nos recantos mais destroçados de uma situação; a ironia disfarçada de uma sutileza que incomoda; a falta de pudor em explorar os lados mais patéticos e humilhantes de seus personagens - uma das melhores especialidades do diretor. A fotografia de Roger Deakins evidencia ao invés de disfarçar, reforçando a sensação de incômodo, tanto pelo calor quanto pela falta do que fazer no deserto. Sam Mendes foge do maniqueísmo e não se preocupa em fazer o público simpatizar com o protagonista: ele é apenas mais um soldado anônimo naquele meio. Tal postura é muito semelhante à de Nascido Para Matar, embora Stanley Kubrick trate do assunto com mais propriedade e profundidade. Além dele, o longa também faz referência explícita a Apocalypse Now e a Três Reis.
O desenrolar da trama acaba não mantendo muitas de suas proposições iniciais, o que é uma pena. Mas o diretor - que se preocupa mais com a qualidade do que com a quantidade de filmes que realiza - ainda sabe usar Hollywood com talento. Conduzindo Jake Gyllenhaal, a estrela do momento, e coadjuvantes de luxo - entre eles os oscarizados Chris Cooper e Jammie Foxx - ao primeiro conflito entre Estados Unios e Iraque, em seu novo filme Sam Mendes leva às telas o horror da guerra por um ângulo bem incomum: o da falta de engajamento. E é incrível perceber que uma produção com essa temática não precisa mostrar militância ou influenciar opiniões para afetar o espectador e fazê-lo pensar sobre a situação. O cinema começou bem em 2006 com Soldado Anônimo. Wellcome to the suck!

4 Comentários:

Às 6:40 PM , Anonymous Anônimo disse...

e isso ai.

 
Às 9:13 PM , Blogger Isabella Goulart disse...

se o meu irmãozinho falou tá falado!

 
Às 5:19 PM , Anonymous Anônimo disse...

ok, isabella!
respeito sua opiniao e acho até q foi mto bem defendida. a verdade é que até hj ainda nao sei o sentimento certo q tive ao ver o filme. eu nao amei o filme de paixao mas tb nao o desgostei.
tem partes do filme que sao realmente mto boas e toda a equipe está de parabens! mas acho q o filme comeca de um jeito e termina de outro... comeca com cancoes e situações engracadas, evidenciadas ainda mais pela direcao e pela forma como foi montado, e lá dps o filme acaba tentando ser um drama interno dos personagens q a mim nao convenceu mto... além disso ele mostra a rotina do exercito, da guerra e os personagens q 'tentam' ser bem explorados mas nao o sao totalmente, nesta minha humilde opiniao.
acho q em suma o filme acaba sendo legal, mas tenho q dizer que sai do cinema com a sensacao de que algo estava faltando...

 
Às 5:27 PM , Blogger Isabella Goulart disse...

Eu concordo com isso... É o que disse: ele não mantém suas proposições iniciais. E o que ele propõe no início é bem mais interessante do que aquilo que começa a propor da metade pro fim, o tal drama interno que vc falou. Acho que esse lado não convenceu exatamente por não se instaurar desde o começo. Afinal, como tb disse, o protagonista é só mais um milico como outro, e acredito que um gde pto da trama seja exatamente não justificá-lo ou não proporcionar redenção. É, talvez tenha faltado ao Sam Mendes coragem pra levar até o fim o que ele começou a propor. Coragem essa que não faltou ao Kubrick... Mas, enfim, acho que apesar das recaídas no senso comum de Hollywood, Soldado Anônimo tem qualidades que superam as falhas. Achei bacana de verdade. Sem contar o Jake (Gyllenhaal), que dps dessa ganhou uma chance comigo! Hehe

 

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