domingo, fevereiro 12, 2006

Ponto Final - Match Point

Woody Allen é um sujeito curioso. Tem a notável e notória capacidade de reinventar a mesma temática há quarenta anos: neuroses amorosas urbanas, preferencialmente as suas, interpretadas por ele mesmo ou por alguém que lhe sirva de alter-ego. Realiza tal proeza com um talento que lhe valeu o status de gênio dentro do cinema, embora o sabor de suas produções mais recentes já não seja o mesmo dos áureos tempos de fertilidade criativa. Polêmico por natureza e opção, avesso à religiosidade e dono de um humor auto-depreciativo único, lança um carisma espaçoso. Difícil não simpatizar com um cara desses.
Em Ponto Final (Match Point, Inglaterra, Estados Unidos, Luxemburgo, 2005) Allen abandona sua Nova Iorque habitual, as neuroses e o egocentrismo para dirigir na Inglaterra um roteiro brilhante, que resgata as boas e velhas tramas sobre ligações perigosas de meados do século passado e lhe valeu a indicação para o Globo de Ouro e para o Oscar na categoria. A história intrincada de drama e suspense trata de paixão, luxúria e ambição, tendo como mote inspiradas reflexões sobre as vantagens e venturas da sorte. É preferível ser sortudo a ser bom.
Jonathan Rhys-Meyers está excelente como o protagonista Chris Wilton, um ex-jogador de tênis profissional que começa a dar aulas em um clube privativo de Londres. Lá conhece Tom Hewett (Mathew Goode), um jovem de alta classe de quem se torna amigo, e cai nas graças da irmã do rapaz (Emily Mortimer). Essencialmente ambicioso, e não interesseiro, ele começa a ter acesso a um meio social e cultural muito distinto do seu – aquele ambiente aristocrático de pompa e tradição britânico que o cinema já se encarregou de nos apresentar. Imerso nesse mundo ao qual se acostumou com engenhosa facilidade, Chris põe em risco sua vida confortável ao desejar a noiva do cunhado (Scarllet Johansson, num papel com traços de femme fatale).
A direção de Woody Allen é tão boa quanto a trama que ele engendrou e o final espetacular evidencia o indisfarçável humor irônico e ácido que só uma mente insana como a dele seria capaz de criar. Atenção admiradores da boa arte: Allen não morreu. Em seu Ponto Final (péssimo título em português, verdade seja dita) ele está vivo como há muito tempo não aparentava. O prazer é todo nosso.

2 Comentários:

Às 4:39 PM , Blogger Isabella Goulart disse...

Viram só?!
Fiz uma crítica pequena!!
=D

 
Às 9:39 AM , Blogger Marcela Bertoletti disse...

Adorei a crítica!!!!!!!!!
Vc disse tudo que eu queria dizer sobre o filme, é isso mesmo. Match Point é maravilhoso, e tem um humor muito específico de Wood Allen. É incrivél como o Wood tem o poder de se reiventar abordando uma temática tão comum aos seu filmes. Espero que ele não morra nunca e o prazer é td nosso mesmo.
Bjs

 

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