segunda-feira, março 06, 2006

And the Oscar goes to...


"E ai gostou do Oscar?"
Foi a pergunta que a Marcela me fez ao comentar sobre Capote. Eu, pobre estudante do segundo período de Cinema, dei uma resposta simplezinha logo depois do post que a minha querida caloura deixou. Ingênua criatura. Mais tarde, quando me interessei em saber qual foi a repercussão da maior festa do Cinema na mídia, descobri que a discórdia impera e percebi que o Oscar 2006 merecia o seu próprio texto. Então, vamos a ele.
Tapete vermelho, glamour, gente bem vestida e mal vestida, celebridades arroz de festa, estrelas que chamavam a atenção. Não há como escapar do trivial na noite de entrega da estatueta dourada concedida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas que é o sonho de qualquer mortal capaz de chegar ao Monte Olimpo de Hollywood. E todo ano um filme desponta como favorito, embora nem toda cerimônia conte com um devorador de prêmios como Titanic ou O Senhos dos Anéis. A bola da vez era O Segredo de Brokeback Mountain, indicado a 8 Oscar, que de tão comentado dispensa qualquer apresentação. Sobretudo depois da tendência que o Globo de Ouro apontou, começou a se criar toda uma expectativa em torno do que seria (mas não foi) o "Oscar gay". A Academia estaria se abrindo a temas que outrora jamais comportaria? A boa arte e a originalidade venceriam enfim os padrões mofados de Hollywood? Bem, acho injusto dizer que o Oscar 2006 foi apenas mais do mesmo. Mas é perceptível que a premiação frustrou algumas expectativas.
A noite começou com a sensação de deja vu, quando o Oscar de ator coadjuvante foi entregue a George Clooney (sempre irresistível). Eu não assisti Syriana e não digo que foi um prêmio injusto. Mas me soou como uma decisão política, já que Clooney, por uma série de razões óbvias, não levaria para casa as estatuetas de roteiro e direção. Meu favorito na categoria era Jake Gyllenhaal, mas isso não interessa. O Jardineiro Fiel, preterido em tantos quesitos logo na indicação, experimentou também a política da Academia ao ter Rachel Weiz indicada a coadjuvante (artifício recorrente quando se deseja oscarizar uma jovem, bela e competente atriz principal) e a moça saiu do Kodak Theatre com um prêmio bastante merecido. Mais uma boa dose de conveniência foi despejada sobre a estatueta de melhor longa de animação, entregue ao mais fraco de todos os concorrentes, Wallace e Gromit: A Batalha dos Vegetais. A produção inglesa sofreu um atraso de cinco anos depois que o estúdio pegou fogo, mas, até onde se sabe, Tim Burton e Hayao Myazaki não tinham nada a ver com isso.
O show seguiu mais plausível. Os prêmios "técnicos" foram quase todos para King Kong, o que já era de se esperar. Escolhas justas pois, tenha você amado ou odiado a tribo de nativos saída de Thriller, os insetos gigantes e o gorila temperamental, há de se convir que Guerra dos Mundos, Munique, Harry Potter e o Cálice de Fogo e As Crônicas de Nárina, embora muito competentes, não foram páreo para a grandiosidade visual e sonora da última empreitada de Peter Jackson. Mas Nárina não saiu da festa de mãos vazias, arrematando um merecido prêmio de melhor maquiagem. E se Steven Spilberg não ganhou uma estatueta sequer pelos filmes que dirigiu, viu Memórias de uma Gueixa, produção sua, levar três Oscar, por melhor figurino, direção de arte e fotografia. Se foi justo não sei, já que esse é mais um dos filmes que não pude assistir. Orgulho e Preconceito, O Jardineiro Fiel, Johnny e June e Boa Noite e Boa Sorte eram representantes à altura em algumas das categorias, mas com a onda de orientalidade que tomou o ocidente era previsível que as gueixas e a exuberância visual de Bob Marshal levassem a melhor. O Oscar de filme estrangeiro surpreendeu e foi cair no colo do pouco divulgado Tsotsi, da África do Sul.
O melhor ator e a melhor atriz, por sua vez, não surpreenderam. Philip Seymour Hoffman recebeu sua merecida estatueta por Capote, mas minha torcida era mesmo por Joaquin Phoenix, que depois do seu desempenho magnífico me transformou em fã de Johnny Cash. Confesso que até o último momento tive esperança de que o Oscar fosse para ele, já que o bonequinho dourado de Reese Whiterspoon sofria pouca ameaça, e a consagração do casal como melhor ator e atriz de 2005 seria um belo tributo à química rara e adorável que exibiram no delicioso Johnny e June. Dá para perceber que estou de coração partido pelo filme ter levado apenas um prêmio (o de Reese), não é? E estou mesmo. Uma pena. Outra das minhas grandes frustrações foi Brokeback Mountain não ter sequer concorrido ao Oscar de melhor montagem (vencido por Crash- No Limite, acredito que justamente). Mas foi um deleite ver a trilha sonora do filme, que de tão sublime não há palavras para descrever, sair premiada. Tremenda surpresa John Williams, o grande oscarizado das trilhas, ter concorrido por dois filmes diferentes (Munique e Memórias de uma Gueixa) e perdido a estatueta. Para mim, esse foi um dos prêmios mais justos da noite. O Segredo de Brokeback Mountain mereceu todos os Oscar que arrematou. Melhor roteiro adaptado e melhor diretor (o taiwanês Ang Lee) foram para o endereço certo, embora George Clooney fizesse jus a esse último por Boa Noite e Boa Sorte. O prêmio de roteiro original também acabou nas mãos de Crash, o único dos candidatos a melhor filme que eu, grande amiga de Murphy, não consegui assistir. Portanto, difícil dizer se os brilhantes roteiros de Match Point e Boa Noite e Boa Sorte mereciam menos a glória. As três canções que concorreram foram apresentadas em perfomances incrivelmente ridículas e não chega a ser inusitado o prêmio ter ido para o rap bacana "It´s hard out here for a pimp", de Ritmo de um Sonho. Vamos lembrar que a Academia já deu o Oscar para Eminen.
Um aparte para o Oscar honorário concedido ao maravilhoso Robert Altman. Já era mais que tempo de uma homenagem dessas. E chegamos ao ponto alto da noite. Até mesmo os produtores de Crash se surpreenderam quando foi anunciado por Jack Nicholson (também chocado com o resultado) que o prêmio máximo da festa seria dado a eles. Repito: não vi Crash e confesso que tinha Boa Noite e Boa Sorte, o perigoso filme de George Clooney, e O Segredo de Brokeback Mountain, o delicado romance de Ang Lee - e minha paixão confessa - como os concorrentes mais fortes da categoria. Uma nuvem cinza paira sobre a minha cabeça e acredito que ela só vai desaparecer quando eu enfim conseguir assistir o grande premiado. Pode ser que a Academia tenha se acovardado de última hora e imaginado ser mais seguro dar o Oscar de melhor filme para uma produção que põe o dedo em uma ferida já admissível de se tocar. Mas desde que Crash estreou no Brasil, em outubro de 2005, tenho ouvido cometários entusiasmados sobre ele e há quem defenda que o filme era, sim, mais merecedor da estatueta de melhor produção que seu colega tido como favorito. Creio que ainda não me recuperei do choque, porque, convenhamos, surpreender não é a maior especialidade do Oscar. Mas o resultado não me deixou triste (um pouco desiludida talvez). Para alguém que ama tanto o cinema foi um prazer acompanhar uma cerimônia em que os concorrentes tinham tanta qualidade e valor. Não é sempre assim.
Os que ainda estão frustrados com a derrota de Brokeback Mountain, pensem que o Oscar, com todo o seu charme, importância e glamour, não passa de um prêmio para figurar na prateleira. O belo romance protagonizado por Heath Leadger e Jake Gyllenhaal não precisa disso para ser o que é e para ganhar na história do Cinema o espaço que lhe caberá. Nenhuma das ótimas produções que tiveram seus nomes citados ontem a noite precisam. Seja por iniciativas sutis da premiação, por meu instinto pessoal ou apenas por uma vontade intuitiva, o Oscar 2006 me despertou algo diferente. Começo a ter esperanças no bom senso da Academia. Só resta torcer pelo futuro, para que a cerimônia seja cada vez mais coerente com o que deve ser: uma enorme festa para premiar o bom cinema.

11 Comentários:

Às 10:37 AM , Anonymous Anônimo disse...

hahaha se rendeu ao oscar, vai ter q explicar ao felipe..
sacanagem...

 
Às 11:01 AM , Blogger Isabella Goulart disse...

Como assim? Eu sempre fui fascinada pelo Oscar. Só não concordo que ele seja tão cor de rosa quanto o Felipe acha. Política, Oscar é o seu nome. Mas ainda há esperanças...
=D

 
Às 5:55 PM , Anonymous Anônimo disse...

Putz Isabella... Tem uns comentários seus que me fazem pular aqui na cadeira! Acredito que uma boa conversa vá esclarecer as coisas, mas por favor: "Política, Oscar é o seu nome" e "... não passa de um prêmio para figurar na prateleira" tá avacalhando hein...

Enfim, tenho pouco espaço então vou ser curto e grosso: dos filmes que eu assisti e pude comparar, as premiações foram justas (inclusive na categoria de Melhor Filme).

Beijo.

 
Às 10:30 PM , Blogger Isabella Goulart disse...

Hahahahahahahaha
Sabia que vc não ia gostar desses comentários, Felipe. Mas vc sabe que é essa a minha opinião. Uma boa conversa não vai "esclarecer as coisas". A gente vai discutir isso pro resto da vida! Gostei da premiação esse ano e tb achei os resultados justos. Gostei até da surpresa de melhor filme (engraçado todo mundo achar que estou desolada pela derrota de Brokeback). Por isso disse que o Oscar 2006 me despertou coisas diferentes e que começo a ter esperanças na Academia.
Mas é fato: vc não vai me convencer de que o Oscar é sempre justo, abrange todo tipo de cinema, do mundo todo e não envolve política. E muito menos que Titanic mereceu os 11 Oscar que levou ou que o James Cameron é um bom diretor.
Qto a ser apenas um prêmio pra figurar na prateleira, no fim das contas é isso sim. Vc sabe que adoro o Oscar (quase) tanto qto vc, apesar de nossas visões diferentes sobre a questão. Mas, sinceramente, pensar de forma diferente seria quase admitir que há, em toda a história do cinema, 78 filmes que são superiores aos outros. E, sinceramente, Cinema é muito mais que isso.
De qq jeito, mesmo pensando de forma muito desigual, ainda vamos dominar o mundo. Sabe que eu te adoro, né?! =D

 
Às 12:04 AM , Anonymous Anônimo disse...

clamou manifestação do felipe ne?


mencionou titanic c taaaanta indiferença.

 
Às 3:09 AM , Blogger Isabella Goulart disse...

Hehehehehe
Não, clamar manifestação do Felipe foi só em Johnny e June. Sobre o Oscar, Titanic e tudo mais, ele é que gosta de ficar discordando de mim... E a sala de informática do IACS está do meu lado: ele escreveu um texto grandão respondendo o meu comentário aí de cima, mas deu falha qdo tentou postar! Hihi

 
Às 2:01 PM , Anonymous Anônimo disse...

Pois é, essa droga aqui travou quando eu tinha um texto lindo e prontinho pra responder... Mas enfim, a hora que eu tiver tempo respondo de novo.

E não é que eu gosto de ficar discordando não Isabella, você é que às vezes não enxerga o óbvio (ou teima com alguma coisa)!

Beijo.

 
Às 2:40 PM , Blogger Isabella Goulart disse...

Rá! E as pessoas que leem esse blog nem imaginam o que eu tenho ouvido da sua boca ultimamente hein, Felipe! "Não enxerga o óbvio ou teima com alguma coisa"? Pois o que eu digo faz tanto sentido que até vc já está começando a concordar comigo. Pode ficar por aí dizendo que eu te induzi e tal, mas vai ter coragem de negar? Olha lá que há testemunhas! Hehe

 
Às 4:59 PM , Anonymous Anônimo disse...

Tudo bem que vc gosta do Jake, mas daí ele levar melhor ator coadjuvante é exagero. Me desculpa Isabella, concordo que ele tava bem noo filme, mas não era pra Oscar. Clooney obviamente ia levar ... não só pela politicagem, mas pq é o Clooney, e estava na hora de a Academia consagrar mais um astro (veja bem...não necessariamente ator, mas astro). Concordo que O Jardineiro Fiel foi preterido, e vibrei com a Rachel e com Memórias de uma Gueixa,pelo qual, você sabe, me apaixonei. E não concordei com a "merecida" maquiagem de Narnia. Torcia pra Star Wars...vc imagina o trabalho pra fazer aqueles bichos horrendos.
E quanto aos atores, venceram os que eu torcia. Hoffman estava sem comentarios de tão bom. E Reese... é Reese...é a nova Julia Roberts ... e loiríssima, carismatica, meiga ... a perfeita "american sweetheart".
Bom...escrevi demais. Mas não mais do que vc com suas IMEEEENNNSSSAASSSSS críticas... hehehe
Bjuss

 
Às 5:24 PM , Blogger Isabella Goulart disse...

Ah. Tão tentando fazer da Reese a nova Júlia Roberts, né. O processo está indo bem, até simpatizo com ela. Hahahaha, é a sua cara gostar tanto dela! Ela tava bem em Johnny e June, mas a concorrência esse ano pra melhor atriz não era mt forte.
Seria bacana se o Jake tivesse levado, não só por ele estar mt bem no papel, mas por ser mais principal do que coadjuvante em Brokeback Mountain. Siceramente, não acho que a Academia se importe muito se "é o Clooney" ou não. O caso é que não havia como ignorar sua presença esse ano, pisando nos calos do país. Gosto dele.
Star Wars deu trabalho? Nárina tb. Os efeitos nem são gde coisa, mas a maquiagem mereceu crédito sim.
Tava com o Joaquin e tenho dito.
E, se vc pensar bem, minha crítica dessa vez nem foi imensa. Haja caracteres pra conseguir condensar toda a cerimônia do Oscar! =D

Bjo diva!

 
Às 12:39 AM , Blogger Marcela Bertoletti disse...

Bom adorei o fato da minha pergunta ter motivado um texto desses! Vou perguntar mais vezes, rs
Bom, isso td prova q o oscar realmente continua dando seus premios a filmes com temáticas mais facilmente digeriveis. Também não assisti Crash, mas acho q premiar um filme q fala de preconceito racial, ainda é muito mais cômodo do que premiar um que trate da temática gay.
Mas gostei da festa de uma forma geral, que esse ano, incrivelmente, terminou super cedo, antes de 2 da manhã.

Adorei, Isa!!!

Bjão

 

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial